quarta-feira, 15 de abril de 2009

2 mil anos atrás...

Eu jurei que não ia escrever sobre o assunto. Nem quando ele foi noticiado, nem depois das repercussões. Mas hoje não deu. Acho um saco discutir coisas que não dá p/ discutir, como religião, política e futebol. Coisas que cada um tem sua opinião e pronto. Mas agora não deu mais.
Fiquei revoltada hoje ao ler uma notícia dizendo que o Arcebispo de Pernambuco (aquele que excomungou os médicos e a mãe da menina de 9 anos que fez um aborto de gêmeos) vai ser homenageado pela "sua atitude heroica no cumprimento do ministério episcopal, na defesa da vida humana, ao enfrentar o desagrado de tantos que promovem a cultura da morte".
Só queria entender o "defesa da vida humana". O que será que eles entendem disso? Bom, retomando os fatos: a menina de 9 anos foi estuprada pelo padrasto e engravidou de gêmeos. Culpa dela? Aparentemente sim, afinal, ela deveria pagar com a vida pelo que fez. Foi diagnosticado que se ela prosseguisse com a gravidez, era morte certa. Então a pobre menina teria que se conformar, pois as vidas geradas de um estupro, uma coisa abominável, eram muito mais importantes que a própria vida dela.
No momento em que foi descoberto o absurdo, a Igreja sequer pensou na vida dela. Nem lembrou da idade da menina. A coitada brincava de boneca e o pervertido do padrasto resolveu brincar com ela, destruindo toda a sua infância, quiçá seu futuro como mulher. Será que ela conseguirá confiar em um homem depois disso tudo? Será que ela terá uma vida normal depois desse trauma de infância? Tomara que ela não tenha entendido a gravidade do que aconteceu com ela. E espero que jamais entenda a mentalidade ignóbil desse arcebispo que puniu as pessoas que pensaram nela. Porque o próprio falou em alto e bom som: aborto é pior que estupro. Voltamos ao Maluf: "estupra, mas não mata". No caso: "estupra, mas não aborta".
Ah, o padrasto não foi excomungado. Interessante, não? Afinal, a igreja perdoa seus pecadores arrependidos. Ele só não conseguiu se conter diante da ardilosa menina de 9 anos que o provocava, muito menos da irmã da menina, com problemas mentais, que também o seduziu. "Pôxa, seu padre, elas me provocaram", "Tudo bem, meu filho, as mulheres são assim mesmo, lembre-se de Eva. Se não fosse ela, todos nós ainda estaríamos vivendo no Paraíso".
E o que posso apreender dessa história? Simples: para a igreja católica a mulher continua sendo a grande culpada da humanidade. Um estupro nada mais é do que merecido, não importa se ela tenha 39 ou 9. Mulheres são culpadas desde que nascem. Apenas pelo simples fato de terem nascido mulheres. Queimemos todas, afinal, todos nasceram de ovos mesmo. Todos chocados ao sol. Padres, arcebispos e afins foram enviados de Deus. Brotaram da terra. Não têm mãe ou irmãs. Talvez se tivessem filhas, poderiam entender. Afinal, o que esse arcebispo faria se um pervertido estuprasse sua filha de 9 anos? E se sua filha engravidasse desse pervertido e ele fosse obrigado a criar os netos depois que sua filha morresse no parto? É muito fácil ditar regras, pois na teoria elas sempre funcionam. Mas e na prática? A crianças não tiveram culpa de serem geradas. Mas e a menina? Teve culpa de ser estuprada? Deveria pagar com a vida pelo erro do outro, que sequer foi excomungado? E os médicos que juraram salvar vidas? Também têm culpa de terem salvado a vida e o pouco que resta de infância da menina? Devem ser julgados e queimados na fogueira junto com a mãe, que apenas queria que a filha tivesse uma segunda chance? Que apenas queria sua filha viva?
Fogueira para todos! Voltamos à época da caça às bruxas. E como sempre, as bruxas são mulheres. Séculos se passaram, inovações tecnológicas e milhares de descobertas científicas surgiram. Mas a mentalidade arcaica dessa instituição que há muito deixou de ser religião continua parada no tempo, seguindo regras obsoletas que eles próprios criaram em nome de Deus. Fácil vomitar religião quando acontece com o vizinho. Pimenta nos olhos dos outros...
Daqui a uns tempos voltaremos a seguir tudo que consta na Bíblia e os homens poderão ter mais de uma mulher e algumas escravas também. E as mulheres voltarão a ser simples parideiras.
Essa história toda me fez sentir como se tivéssemos retrocedido 2 mil anos no tempo. E no fundo todas somos Madalenas. Mas não-arrependidas...