quarta-feira, 8 de outubro de 2008

E o circo continua...

Acabou, e entre mortos e feridos, mais uma eleição se foi. Como já disse anteriormente, odeio política. Simplesmente porque odeio a hipocrisia que ronda esse termo. Assim como detesto todos os malditos clichês, como "exercer seu direito", "cumprir o dever de cidadão", "vote, pois seu voto é importante". Peraí, e eu lá tenho escolha? O que acontece mesmo se eu não votar e não justificar a minha ausência?


"O eleitor que não votar nem justificar sua ausência nos prazos determinados pela Justiça Eleitoral deverá pagar uma multa imposta pelo juiz eleitoral. Sem a prova de que votou, pagou multa ou de que se justificou devidamente, o eleitor não poderá inscrever-se em concurso público, obter passaporte ou carteira de identidade, renovar matrícula em estabelecimentos de ensino oficial, obter empréstimos em estabelecimentos de crédito mantidos pelo governo, participar de concorrência e praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. Se o eleitor deixar de votar em três eleições consecutivas, seu título será cancelado." (Fonte: http://eleicoes.uol.com.br/2008/guia-do-eleitor/duvidas-frequentes.jhtm).


Ou seja, se você não vota, tem que justificar, se não justificar, tem que pagar (?!!), se não pagar, você não pode trabalhar (pelo menos ocupar cargos públicos), não pode sair do país, não pode estudar, nem mesmo tirar um documento de identificação. Em outras palavras, se você não votar, você não é ninguém. Sem direitos a nada, um pária.


Aí começa o problema: se uma pessoa não sabe em quem votar e é obrigada a fazê-lo, o que acontece? Se ela tiver o mínimo de bom-senso, ela anula o voto, afinal, antes não atrapalhar, não é mesmo? Mas a grande maioria vê o circo e acha que é palhaçada. A maior prova desse circo está no Horário Eleitoral Gratuito (que em 1/4 de século, jamais assisti até o final, faço parte da grande massa que simplesmente desliga a TV): qualquer um (esse é o termo) se candidata - e sabe lá Deus qual é o critério para uma candidatura ser "deferida" ou "indeferida" - e tem alguns raros segundos para apresentar suas propostas e soluções, em suma, convencer o eleitor de que votar nele é uma atitude sensata. Em vez disso vemos candidatos gritando, como se fossem grandes revolucionários de terno e gravata, candidatos BBB, fazendo de tudo para aparecer, candidatos palhaços, fazendo macaquices e adotando nomes duvidosos. Os "mais-mais", os superstars dos grandes partidos políticos não ficam atrás. Adotando uma técnica que já está virando rotineira, começam vomitando todos os projetos que fizeram durante seus mandatos e terminam atacando o(s) adversário(s). Questionam tudo, desde uma obra superfaturada até mesmo a entrevista polêmica que o infeliz deu para alguma publicação duvidosa, passando até mesmo pela marca do carro que cada um tem. É um jogo de egos e nós, os palhaços do grande circo, é que decidimos qual desses palhaços-maiores irá representar os palhaços-menores. "Vote em mim, eu fiz isso", "Vote em mim, eu farei aquilo".

Então os "eleitores" vão no grande dia em direção às urnas. Uns se queixando, outros reclamando, a maioria em dúvida e uma pouca minoria iludida indo confiante em seu candidato. Que sempre é o mesmo. Que sempre faz as mesmas coisas, comete os mesmos erros. E o brasileiro (não desiste nunca!) continua votando, sempre olhando o que o candidato tem de melhor, fazendo questão de esquecer os erros. No fundo opovo brasileiro é uma grande mãezona. Por mais que lembre dos erros de seus representantes, por mais que esteja provado que alguns não prestam, eles continuam passando a mão na cabeça deles. "Ah, eles não têm provas", "Ah, tramaram para o coitadinho" e o famoso "Ah, ele rouba, mas faz!". A maior prova disso a gente vê na semana seguinte às eleições. Quantos milhares de prefeitos envolvidos em escândalos foram reeleitos? Quantos milhares de vereadores acusados (e alguns até mesmo condenados e posteriormente liberados por seus caríssimos advogados) não foram reeleitos? Brasileiro tem memória curta. Alguns até mesmo transformam as eleições em um grande campeonato, dividindo pequenos municípios, ou mesmo em um grande Carnaval: Portela x Mangueira, Garantido x Caprichoso, Corinthians x Palmeiras... Partido alguma coisa x Partido qualquer outra coisa. E gritam, se descabelam, xingam, tudo para colocar o candidato lá no alto. E quando ele é eleito, parece que metade do município foi eleita junto. É uma grande festa! Todos comemoram, tiram sarro dos perdedores, como se ganhassem uma final de campeonato. E no ano seguinte tudo continua exatamente igual. Nada melhora, nada anda, ninguém reclama. E tudo vira uma quarta-feira de Cinzas... até a próxima eleição.
Enfim, detesto política justamente por causa dessa palhaçada que virou. Ou melhor, porque aqui neste país ela sempre foi uma grande palhaçada. Tivemos uma independência de mentira, uma república de mentira, uma política de mentira. Até mesmo as pequenas revoluções que tivemos foram individualistas, nada que servisse para juntar o povo em nome de um bem maior. Somos todos egoístas, só pensamos em nós mesmos, e enquanto agirmos assim, nada vai mudar. Se sou evangélica e votar num candidato evangélico apenas porque ele é evangélico; se sou católica e votar num candidato católico só porque ele é católico; se sou semi-analfabeta e voto num candidato semi-analfabeto; se sou rica e voto num candidato rico; se sou uma eleitora que só vota em determinado candidato porque tenho algum tipo de afinidade extrapolítica com ele, ou porque ele foi um cantor famoso, ou porque ele foi um apresentador ou algum ex-artista decadente... Se faço tudo isso, não estou pensando no que é melhor para minha cidade, Estado ou país. Simplesmente estou pensando em mim mesma. Não interessa o que ele pode fazer, e sim o que ele é. E nisso não está incluído o caráter do indivíduo. Não, apenas o que ele foi na mídia, o quão famoso e importante ele se tornou, independente se isso é bom ou não. E quando a pessoa é afiliada a algum partido, então, não importa se o representante tem um passado tenebroso, todos votarão nele. Não exatamente nele, mas sim na legenda.
Difícil... Em um país segregado, é quase impossível manter a união. Quem sabe um dia a gente faz jus à designação "União"... Enquanto isso não se resolve e nenhum candidato propõe algo assim, vou continuar votando no Dick Vigarista. E de repente acontece algo parecido com o que aconteceu em uma cidade do Rio de Janeiro, onde mais de 50% dos votos foram anulados. Sinal de que a maioria não concorda com nenhum dos candidatos. Acho que deveriam ser realizadas novas eleições lá. Com candidatos diferentes, claro!

Nenhum comentário: