quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Santos do pau oco

Não sou um exemplo de religiosidade, muito pelo contrário, não sigo nenhuma religião, mas a minha própria. Encontrei um Deus dentro de mim e das coisas que me cercam e Ele não me pede nem exige que eu faça determinadas coisas periodicamente e muito menos me cobra quando erro. Acho que acima de tudo, Deus está nas nossas consciências. Deus não é um livro cheio de histórias, Deus não é uma tábua cheia de regras, Deus não é uma construção ou um lugar. Deus está aí, olhando tudo que fazemos e nos auxiliando a entender certas coisas que teimamos em não aceitar. Deus está aí para nos ajudar a amar o próximo, ainda que esse próximo esteja tão distante de seu coração.
E talvez seja por isso que tenho tanta raiva das pessoas que vomitam religião. São pessoas que sabem a teoria inteira, mas a prática... É um tanto mais complicado. Vamos pegar o catolicismo como exemplo. Conheço "n" pessoas católicas que se dizem praticantes. Para isso vamos entender primeiro o termo "não praticante". Segundo meu entendimento é aquele ser que foi batizado, catequisado, crismado e sabe lá mais o quê. Mas ainda assim não se interessa pelo assunto, sabe que Deus está lá (ou não), mas não se importa com todas as milhares de regras e preceitos da Igreja. Não freqüenta, mas também não doutrina. Em suma: não dão trabalho nenhum.
Já os que se denominam "praticantes", em sua grande maioria são os piores. Como disse acima, eles vomitam religião. Em tudo colocam o nome de Deus, Jesus, Nossa Senhora e mais uma infinidade de santos. Vão à missa todo santo domingo, comungam, se confessam. Mas depois disso tudo, depois que saem da igreja simplesmente esquecem os preceitos mais básicos da religião (de qualquer uma): respeito e amor ao próximo. Tenho certeza que toda religião existente tem esse item como obrigatório para uma comunidade harmoniosa. Porque respeito é a coisa mais básica para se viver em sociedade.
Os ditos "praticantes", os falsos-religiosos, saem da igreja iluminados, achando que cumpriram seu dever com Deus. E então desatam a cometer mais alguns pecados para a missa da semana que vem. E esquecem completamente dos tais 10 mandamentos. Não sei todos de cor, e por isso mesmo fiz uma pesquisa rápida na internet:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
2. Não tomar Seu santo nome em vão.
3. Guardar domingos e festas.
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade.
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo.
10. Não cobiçar as coisas alheias.

Então vamos lá. Quantas pessoas você conhece que vivem invocando aos quatro ventos que Deus isso, Deus aquilo e por aí vai? Segundo minha professora de religião (sim, eu tive aula de religião um dia), isso era, sim, "tomar Seu santo nome em vão". Primeiro pecado.
Segundo a mesma professora, "Honrar pai e mãe" não quer dizer necessariamente não desrespeitar os pais verbalmente. Às vezes os filhos fazem coisas que desonram o nome que os pais lhe deram. Criam situações e intrigas, provocam as pessoas, envergonham os pais, como se esses não lhe tivessem dado nenhuma educação. Segundo pecado.
Não vou comentar o "Não pecar contra a castidade". Hoje em dia essas daí nem ao menos sabem o que significa castidade. Até porque casar virgem hoje em dia, acho que nem a Sandy... Terceiro pecado.
Mentiras... Esse é o mais comum. "Não levantar falso testemunho" significa dizer a verdade sempre. Logo: não mentir. Isso implica em não ser falsa com as pessoas também, a não bajular as pessoas apenas para conseguir o que se quer. Quarto pecado.
"Não desejar a mulher do próximo". Considerando que hoje em dia a quantidade de vacas está crescendo absurdamente, podemos colocar o homem entre parênteses também. Mulheres que não se contentam com seus namorados ou maridos. Precisam da atenção de outros homens. E fazem de tudo para chamar a atenção desses homens, inclusive desrespeitar o próprio marido perante a família desse. Essas mulheres não têm limites, nem mesmo o direito de serem chamadas de mulheres. São vacas e ponto. Quinto pecado.
E enfim, o último. Afinal, a grama do vizinho é sempre mais verde. E a vida do outro é muito mais interessante do que a minha. As pessoas sempre gostam mais dela do que de mim. Então vamos derrubar essazinha. Vamos arrumar desculpas para brigar com ela, vamos provocá-la até ela reagir, e então, depois, nos fazermos de vítimas. Porque as pessoas gostam das vítimas. E se eu for a vítima, ninguém mais vai gostar dela. Sexto pecado.
Além disso, ainda temos os sete pecados capitais:

1. Gula
2. Vaidade
3. Luxúria
4. Avareza
5. Preguiça
6. Cobiça
7. Ira

Esses também são deprimentes. Conheço pessoas que juntam os 7 de uma só vez. Pessoas que comem não por fome, mas por gulodice. Que se acham lindas e fazem de tudo para se acharem cada vez mais bonitas, mesmo que para isso tenham que pisar em cima de alguém, comparar-se a alguma pessoa para se sentirem superiores. Pessoas que vivem se agarrando para mostrar que seu amor é verdadeiro, mas confundem amor com tesão. Segundo a Igreja, tesão é pecado... Pessoas preguiçosas, que não fazem nada, não ajudam ninguém, pessoas invejosas, cujas vidas são tão insignificantes que elas acabam vivendo a vida de outros, procurando alguma brecha para destruir a pessoa. E pessoas que ficam furiosas quando não conseguem seu objetivo. Que ficam iradas quando são ignoradas. E provocam. Fazem absolutamente tudo para que o outro aceite a provocação e parta para a ignorância. São pessoas que facilmente perdem a razão porque não têm argumento. Sendo assim partem para a única solução que lhes resta: ofender. Essa é a resposta dos ignorantes. Ofender, ver se a pessoa aceita as ofensas e baixa o nível também.
E essas pessoas que fazem tudo isso se dizem católicas praticantes. Desculpa, mas eu, mesmo sem religião, ainda consigo pecar menos segundo esses mandamentos aí.
Então, como falei anteriormente, Deus está dentro de nós, está nos nossos atos. Não adianta você ir à igreja todo domingo se durante a semana você semeia discórdia. Não adianta temer a Deus e não amar seu próximo. Não adianta não roubar ou matar, mas nutrir sentimentos negativos como a inveja e a ira.
Essas pessoas são dignas de dó, simplesmente porque tentam enganar a si mesmas. Crêem piamente que serão "salvas" apenas seguindo meia dúzia de regras e transgredindo todas as outras. É deprimente. Mais ainda porque são exatamente essas que costumam julgar todo mundo. E se acham donas da razão. Pessoas assim sofrem e a única coisa que podemos fazer é rezar por elas, para que elas se encontrem e enxerguem todos os seus erros antes de apontar os do próximo...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

E o circo continua...

Acabou, e entre mortos e feridos, mais uma eleição se foi. Como já disse anteriormente, odeio política. Simplesmente porque odeio a hipocrisia que ronda esse termo. Assim como detesto todos os malditos clichês, como "exercer seu direito", "cumprir o dever de cidadão", "vote, pois seu voto é importante". Peraí, e eu lá tenho escolha? O que acontece mesmo se eu não votar e não justificar a minha ausência?


"O eleitor que não votar nem justificar sua ausência nos prazos determinados pela Justiça Eleitoral deverá pagar uma multa imposta pelo juiz eleitoral. Sem a prova de que votou, pagou multa ou de que se justificou devidamente, o eleitor não poderá inscrever-se em concurso público, obter passaporte ou carteira de identidade, renovar matrícula em estabelecimentos de ensino oficial, obter empréstimos em estabelecimentos de crédito mantidos pelo governo, participar de concorrência e praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. Se o eleitor deixar de votar em três eleições consecutivas, seu título será cancelado." (Fonte: http://eleicoes.uol.com.br/2008/guia-do-eleitor/duvidas-frequentes.jhtm).


Ou seja, se você não vota, tem que justificar, se não justificar, tem que pagar (?!!), se não pagar, você não pode trabalhar (pelo menos ocupar cargos públicos), não pode sair do país, não pode estudar, nem mesmo tirar um documento de identificação. Em outras palavras, se você não votar, você não é ninguém. Sem direitos a nada, um pária.


Aí começa o problema: se uma pessoa não sabe em quem votar e é obrigada a fazê-lo, o que acontece? Se ela tiver o mínimo de bom-senso, ela anula o voto, afinal, antes não atrapalhar, não é mesmo? Mas a grande maioria vê o circo e acha que é palhaçada. A maior prova desse circo está no Horário Eleitoral Gratuito (que em 1/4 de século, jamais assisti até o final, faço parte da grande massa que simplesmente desliga a TV): qualquer um (esse é o termo) se candidata - e sabe lá Deus qual é o critério para uma candidatura ser "deferida" ou "indeferida" - e tem alguns raros segundos para apresentar suas propostas e soluções, em suma, convencer o eleitor de que votar nele é uma atitude sensata. Em vez disso vemos candidatos gritando, como se fossem grandes revolucionários de terno e gravata, candidatos BBB, fazendo de tudo para aparecer, candidatos palhaços, fazendo macaquices e adotando nomes duvidosos. Os "mais-mais", os superstars dos grandes partidos políticos não ficam atrás. Adotando uma técnica que já está virando rotineira, começam vomitando todos os projetos que fizeram durante seus mandatos e terminam atacando o(s) adversário(s). Questionam tudo, desde uma obra superfaturada até mesmo a entrevista polêmica que o infeliz deu para alguma publicação duvidosa, passando até mesmo pela marca do carro que cada um tem. É um jogo de egos e nós, os palhaços do grande circo, é que decidimos qual desses palhaços-maiores irá representar os palhaços-menores. "Vote em mim, eu fiz isso", "Vote em mim, eu farei aquilo".

Então os "eleitores" vão no grande dia em direção às urnas. Uns se queixando, outros reclamando, a maioria em dúvida e uma pouca minoria iludida indo confiante em seu candidato. Que sempre é o mesmo. Que sempre faz as mesmas coisas, comete os mesmos erros. E o brasileiro (não desiste nunca!) continua votando, sempre olhando o que o candidato tem de melhor, fazendo questão de esquecer os erros. No fundo opovo brasileiro é uma grande mãezona. Por mais que lembre dos erros de seus representantes, por mais que esteja provado que alguns não prestam, eles continuam passando a mão na cabeça deles. "Ah, eles não têm provas", "Ah, tramaram para o coitadinho" e o famoso "Ah, ele rouba, mas faz!". A maior prova disso a gente vê na semana seguinte às eleições. Quantos milhares de prefeitos envolvidos em escândalos foram reeleitos? Quantos milhares de vereadores acusados (e alguns até mesmo condenados e posteriormente liberados por seus caríssimos advogados) não foram reeleitos? Brasileiro tem memória curta. Alguns até mesmo transformam as eleições em um grande campeonato, dividindo pequenos municípios, ou mesmo em um grande Carnaval: Portela x Mangueira, Garantido x Caprichoso, Corinthians x Palmeiras... Partido alguma coisa x Partido qualquer outra coisa. E gritam, se descabelam, xingam, tudo para colocar o candidato lá no alto. E quando ele é eleito, parece que metade do município foi eleita junto. É uma grande festa! Todos comemoram, tiram sarro dos perdedores, como se ganhassem uma final de campeonato. E no ano seguinte tudo continua exatamente igual. Nada melhora, nada anda, ninguém reclama. E tudo vira uma quarta-feira de Cinzas... até a próxima eleição.
Enfim, detesto política justamente por causa dessa palhaçada que virou. Ou melhor, porque aqui neste país ela sempre foi uma grande palhaçada. Tivemos uma independência de mentira, uma república de mentira, uma política de mentira. Até mesmo as pequenas revoluções que tivemos foram individualistas, nada que servisse para juntar o povo em nome de um bem maior. Somos todos egoístas, só pensamos em nós mesmos, e enquanto agirmos assim, nada vai mudar. Se sou evangélica e votar num candidato evangélico apenas porque ele é evangélico; se sou católica e votar num candidato católico só porque ele é católico; se sou semi-analfabeta e voto num candidato semi-analfabeto; se sou rica e voto num candidato rico; se sou uma eleitora que só vota em determinado candidato porque tenho algum tipo de afinidade extrapolítica com ele, ou porque ele foi um cantor famoso, ou porque ele foi um apresentador ou algum ex-artista decadente... Se faço tudo isso, não estou pensando no que é melhor para minha cidade, Estado ou país. Simplesmente estou pensando em mim mesma. Não interessa o que ele pode fazer, e sim o que ele é. E nisso não está incluído o caráter do indivíduo. Não, apenas o que ele foi na mídia, o quão famoso e importante ele se tornou, independente se isso é bom ou não. E quando a pessoa é afiliada a algum partido, então, não importa se o representante tem um passado tenebroso, todos votarão nele. Não exatamente nele, mas sim na legenda.
Difícil... Em um país segregado, é quase impossível manter a união. Quem sabe um dia a gente faz jus à designação "União"... Enquanto isso não se resolve e nenhum candidato propõe algo assim, vou continuar votando no Dick Vigarista. E de repente acontece algo parecido com o que aconteceu em uma cidade do Rio de Janeiro, onde mais de 50% dos votos foram anulados. Sinal de que a maioria não concorda com nenhum dos candidatos. Acho que deveriam ser realizadas novas eleições lá. Com candidatos diferentes, claro!